Foto: Pedro Souza | CAM

Pergunta: o Atlético vinha tomando poucos gols no mata-mata. Hoje, sofreu dois gols no primeiro tempo, com algumas falhas. A ideia de jogo do Atlético foi como você imaginava? Porque o Galo saiu hoje com esse placar adverso?

Gabriel Milito: “Não conseguimos um resultado melhor porque é uma final, jogamos contra uma equipe que tem grandes jogadores, jogamos na casa deles. O plano de jogo inicial, o comportamento da equipe, mais além do resultado, foi bom. Fomos competitivos, é verdade que, nos gols sofridos, pontualmente, aconteceram por, o primeiro gol, por uma má pressão, uma pressão de tempo que eles resolveram bem, jogando um passe para Wesley. Sabíamos que era um jogador de dinâmica e velocidade. No segundo gol, uma pressão com despegada, o seu atacante ficou habilitado (não impedido). O terceiro gol veio por um erro também, mas no primeiro tempo tivemos situações de gol, deveríamos ter tido mais, se tivéssemos feito melhores finalizações. Chegamos no campo rival, eliminando sua pressão. Imaginávamos outro resultado. Mas é futebol, pode acontecer”.

“Não por isso vou deixar de analisar o comportamento da equipe, que vem fazendo esforço extraordinário, com muito desejo competitivo, gana de ser campeão. Entretanto, do outro lado, há uma equipe com esse mesmo desejo. Mas a nossa equipe não se entregou em nenhum momento. Podemos fazer o 3×1 e, nos 15 minutos finais, acho que merecíamos ter feito mais um gol, 3 a2, tivemos situações claras. A equipe foi muito valente, ainda que com erros, valente! É para se reconhecer e dar valor. Bem, foram os primeiros 90 minutos. Ainda resta um jogo mais, em nossa casa, com a nossa torcida. Não sabemos o que vai acontecer, mas tenho certeza que daremos o melhor que temos. Eu confio muito nos jogadores, já provaram outras vezes como se comportam em situações similares. Vamos para o segundo jogo com o desejo e vontade de poder sair campeão”.

Pergunta: a única coisa que vem na cabeça do torcedor atleticano é aquele jogo de 2014, quando o Galo perdeu aqui de dois gols de diferença e conseguiu se classificar. Torcedor gritando “eu, acredito”. Como você pretende trabalhar essa equipe mentalmente, e também fisicamente, recuperando ainda mais jogadores como Bernard e Zaracho, para conseguir essa virada?

Gabriel Milito: “Está tudo bem que eles tenham esse desejo e a esperança de, em casa, com o apoio deles, mais do que iremos fazer no campo de jogo, acreditem que é possível remontar o resultado adverso. É futebol e tudo pode acontecer. Sabemos que temos que nos entregar ao máximo e fazer uma partida muito, muito boa. Iremos nos preparar para isso, fazer um grande jogo e dar a volta na final”.

“Confio muito na mentalidade e no espírito competitivo que os jogadores tem. Sei do sonho deles de ganhar a Copa do Brasil. Vamos nos agarrar muito forte a isso e trabalharemos ao longo da semana com esse desejo que podemos lograr. Se não conseguirmos, poderemos olhar na cara um do outro e saber que demos o melhor. É futebol. Mas ainda temos esperança de ganhar a final”.

Pergunta: É nítido que o Galo voltou diferente no segundo tempo. Você acha que no começo do jogo, seu time entrou meio desligado?

Gabriel Milito: “Bem, no primeiro tempo, logicamente é uma partida com 0 a 0. No segundo tempo, 2 a 0 para eles, era preciso fazer mudanças. Havia que jogar mano a mano, como fizemos no segundo tempo. Eu achava que isso não era recomendável no começo do jogo. Por isso, falamos que temos que nos adaptar aos comportamentos das equipes adversárias e de acordo com os resultados. Queríamos nos defender bem, em linhas gerais, conseguimos. Era recuperar a bola e atacar. Tivemos chances de ataque, mas não levamos perigo, porque não houve escolhas de melhores opções no último terço. Isso pode acontecer. Claramente, sempre, todas as equipes, se vão ganhando, tem um comportamento, e outros se estiverem empatando ou perdendo”.

“Nós, no intervalo, tínhamos que mudar o comportamento por estar perdendo de 2 a 0. Por essa maneira, assumimos mais riscos do que no primeiro tempo, contra atacantes muito bons do Flamengo. Era tentar um gol que nos colocaria de volta à partida, e tentar um outro mais. Esse foi o motivo do câmbio do resultado. Necessitávamos, pelo menos, marcar um gol nos expondo a contra-ataques do Flamengo, com jogadores velozes na ponta, um centroavante com muitos gols. Fizemos bem. Os gols do adversário foram em situações pontuais e não por um domínio do Flamengo. Eu acho que o domínio do segundo tempo, sobretudo nos últimos 20 minutos, com o gol do Kardec, poderíamos ter feito um gol a mais e estar com a diferença de um gol, apenas”.

“Estamos com dois gols a menos e temos esperança de fazer uma segunda partida da final com perfeição, o que nos daria a possibilidade de nos colocar próximos ao título. 90 minutos, mais o tempo adicionado, são 100 minutos, aproximadamente. É muito tempo para fazer dois gols. Temos que ter calma, planificar bem o jogo, e, depois, sair, competir, jogar, como fazemos sempre. Com a certeza de que, o que pretendemos, vai acontecer. Depois, se Flamengo não nos deixa, não nos deixará… Creio muito nos jogadores. Vão competir e vão demonstrar que são grandes, de verdade!”.

Pergunta: Queria que você falasse da mobilização de todo o grupo, especialmente o Alan Kardec, personagem improvável. Primeiro gol dele na temporada. Como isso pode mudar em resgatar a confiança para o jogo da volta.

Gabriel Milito: “Bem, 3 a 0…. Tentamos de outra forma. No futebol, não se pode render jamais, temos que ir atrás. O resultado é negativo, mas 3×1 é melhor. Alan Kardec é um centroavante com características similares a Deyverson, que não pode jogar. Naquele momento de jogo, precisávamos de Alan, para ter mais presença na área, por dentro, contra os seus zagueiros. Ele é um jogador que tem gol. Eu não dei tanta continuidade, tantos minutos, Mas confio nele, ingressou e cumpriu sua tarefa, que é fazer gol. O fez e nos meteu de volta à final. Agora, são 100 minutos a mais”.

Pergunta: o jogo do Flamengo passa muito por Gérson e Arrascaeta, jogadores talentosos. Na minha visão, a marcação não estava tão próximas a eles no primeiro tempo. No segundo tempo, melhorou. Quero saber se você concorda e se você tirou alguma percepção desse jogo para, de repente, tirar alguma coisa no jogo de volta e anular esses jogadores…

Gabriel Milito: “Tínhamos ideias muito claras, para esse jogo de hoje, sobre todos os jogadores do Flamengo. Sabíamos do ataque de Wesley, teríamos que nos defender bem, por isso Arana jogou contra ele. O controle de jogo e a qualidade do Gérson, por isso o Alan Franco jogou contra ele. Sabemos de Arrascaeta, por isso Otávio jogou contra ele. Tentamos plantar esse tipo de duelos, mas não é fácil controlar. Todos que jogam contra Flamengo tentam controlar esses jogadores. Algumas vezes, se pode, outras não”.

“No segundo tempo, fizemos melhor porque jogamos mano a mano no primeiro minuto até o final, então, haveria menos tempo. Nos propusemos a defender alto e em espaços grandes, com um jogador a menos na linha defensiva. Acho que o time fez isso bem, essa é a valentia que eu falo, e precisamos dessa mesma valentia para o jogo de volta, para termos opções de virar a final. Com calma, tranquilidade, fazendo o nosso jogo, meter um gol, se possível, para depois, nos sentirmos que estamos remontando a eliminatória. Mas temos, como você falou, que controlar esses jogadores, que são determinantes para ele, assim como Gabigol, não? Jogador de muitos gols.

“Tentamos neutralizar, fizemos isso em alguns momentos, de forma boa, mas temos que dar crédito ao rival, às vezes vejam muito o lado negativo da nossa equipe. Futebol é assim, podemos ganhar e perder, são jogadores de ótima qualidade dois lados. Mas, volto a repetir, fizemos um bom jogo, à exceção dessas situações pontuais que sofremos gol. O gol de Kardec deu novo ânimo, tivemos chances e merecemos marcar mais o segundo gol, com situações claras. Obrigamos ou forçamos o Flamengo a atuar no 5-4-1, algo que eles não fizeram nunca. Eu, tirando o resultado, valorizo muito isso, algo que a nossa equipe provocou, os jogadores fizeram isso….”

Pergunta: O Atlético teve muita dificuldade nessa saída de bola no primeiro tempo…

Gabriel Milito: “Não… Para mim, foi muito bem. Quantas bolas perdemos? Fala para mim, quantas bolas a gente perdeu?

Repórter: Na saída de bola, o Galo estava tendo dificuldade, com a bola quebrada… A bola estava saindo sem qualidade para o meio, pelo menos no meu ponto de vista, é só uma avaliação. O Atlético estava com muita dificuldade de sair porque eles estavam encaixando os três atacantes mais o Arrascaeta por trás, e o Atlético não estava tendo a vantagem competitiva para fazer a saída de três….

Gabriel Milito: “Mas… Eu te traduzo… Eles eram quatro jogadores pressionando a nossa saída? Sim ou não? Você falou isso? Quem eram? Assim não confundimos. Eu gosto de falar do jogo, é o que mais gosto. Temos a oportunidade agora de falar do jogo.

Repórter: Eu aprendo contigo…

Gabriel Milito: “Vamos fazer… Sei que você é jornalista, eu sou treinador. Como eles pressionaram? Com quantos jogadores?”

Repórter: A pergunta foi eu quem te fiz…

Gabriel Milito: “Mas, você não me fala… Com quantos jogadores eles pressionaram na saída de bola do Everson?

Repórter: Na nossa visão eles estavam fazendo pressão em cima, no 1 a 1. Eles estavam vindo com três jogadores e ainda fechando com o meia. Posso estar equivocado, é uma visão

Gabriel Milito: “Ok. Então, são quatro jogadores, mais o Arrascaeta? Quatro jogadores? Quantos jogadores a gente tinha para o início de jogo com Everson? Estou ajudando você a compreender o que queríamos fazer. Eram quatro jogadores ou mais? Você não me responde. Eu quero falar com certeza. E não falar por falar. Você fala por falar. Eram quatro jogadores, mais (Evertton) Araújo e Gérson que vinham para trás com a linha de quatro defensiva. Verdade? Nós colocamos cinco atacantes, viu isso? Scarpa por direita, Rubens por esquerda, Arana, Hulk e Paulinho. São cinco jogadores. Com isso, fixávamos seis jogadores (do Flamengo), os quatro da defesa, mais Araújo e Gérson. Ok? O goleiro deles não joga, o nosso goleiro joga. Então, teríamos dois jogadores a mais. Sim ou não?

Repórter: Estou compreendendo…

Gabriel Milito: “Éramos seis jogadores. Quem eram os seis? Mas fale, porque senão você pergunta sem saber. Me fala quantos jogadores a gente tinha…”

Repórter: Eu perguntei sabendo. Não estou aqui para constranger ninguém. Estou fazendo uma pergunta porque achei que você teria uma resposta para elucidar o torcedor, só isso. Não era negativa a pergunta, você levou para o lado negativo.

Gabriel Milito: “Não falo se era positiva ou negativa, falo que não tem conhecimento”

Repórter: Você está desqualificando. Eu só te perguntei porque você fez algumas alterações e mudou o sistema de jogo do Atlético, e o Atlético conseguiu ter no final do jogo a possibilidade de reviver para a partida seguinte. Não era negativa a pergunta, por favor Milito.

Gabriel Milito: “Não estou falando que você está fazendo uma pergunta negativa, mas você está fazendo uma pergunta, mas não com conhecimento. Estou perguntando para você agora para termos um diálogo de igual para igual, está bom? Se eles tinham quatro jogadores pressionando e seis defendendo, nós tínhamos cinco jogadores de ataque, nos restam quantos jogadores? Se são 11, restam seis na nossa defesa. São seis jogadores contra quatro, a partir daí tínhamos a superioridade de sair contra quatro, e por isso saímos em muitas oportunidades de forma curta e bem, e em outras oportunidades tivemos uma linha a mais com Paulinho e Arana. Geramos ataques que não aconteceram nada porque no último terço, na parte final, a decisão não foi boa. Mas você só quer falar de sair contra quatro. Você fala da pressão do Flamengo, mas não falou da posição da nossa equipe.”

Repórter: “Eu estava falando da construção. A construção estava deficiente. E acho que não foi só eu que vi, mas tudo bem. E assim, queríamos a sua elucidação porque você sabe mais do que a gente….

Gabriel Milito: “Eu quero explicar para que você me compreenda. Se eles não faziam mano a mano, 10 contra 10 no campo, então Everson não poderia jogar curto, teria que jogar longo. Como aconteceu com o Rossi no segundo tempo, porque estávamos no mano a mano. No primeiro tempo, com Everson, isso não aconteceu. Nós éramos seis jogadores, e eles quatro. Quais eram os seis? Vou traduzir: eram Lyanco, Battaglia, Alonso e Everson. São quatro, mais Alan Franco e Otávio, seis. Eles tinham Michael, Plata, Arrascaeta e Gabriel. Éramos seis contra quatro. Você me fala que no início estivemos mal. Poderia ter sido melhor? Sim. Mas não estivemos mal”.

Pergunta: você falou da questões táticas do jogo. Queria saber se, com essa sequência de jogos, teve dificuldade de os jogadores manterem o mesmo nível? E, na questão física, o Otávio está 100%?

Gabriel Milito: “A equipe está fazendo grande esforço no aspecto físico e também no emocional. Jogar semifinal com Vasco, com River Plate, volta de semifinal com River… Jogar a primeira final hoje, isso em tão pouco tempo, gera desgaste. Por outro lado, temos a recompensa de sermos privilegiados de jogar essas duas finais. Isso é uma motivação extra, porque, pode parecer fácil, mas vocês sabem que é muito difícil jogar duas finais, Copa do Brasil e Libertadores. Essa equipe conseguiu. Estamos conformes com isso? Não! Vamos jogar em busca das duas taças. Isso vai acontecer? Vamos ver, não posso saber. Agora, meu pensamento para os meus jogadores não vai mudar em nada ganhando ou não ganhando os títulos. Sei que a avaliação de vocês vai mudar muito se ganhar ou não. Para mim, como treinador, isso não vai mudar. Porque o caminho percorrido pelos jogadores para jogar as duas finais, até aqui, tem sido espetacular! Extraordinário. Agora, estamos na final e queremos ganhar. Lutaremos para isso, claro. Do outro lado, há uma outra equipe que também quer isso.
Otávio está bem, é um jogador importante para nós. Eu decidi dar minutos a Matías Zaracho no lugar dele porque precisávamos de um jogador mais descansado e também um jogador um pouco mais ofensivo. Esse foi o motivo da troca”.

Pergunta: Você citou a entrada do Zaracho, deu mais cancha na criação do segundo tempo. Como fica a presença dele no segundo jogo, pode começar? E fale também do Bernard, que pode atuar no lado esquerdo, onde você sofreu um pouco ali.

Gabriel Milito: “Hoje recuperamos Mati Zaracho, depois de muito tempo. Jogador fundamental para o nosso jogo. Bernard está muito próximo de se tornar opção de jogo, também. São ótimas notícias para nós. Agora, eu também entendo que eles vêm de algum tempo sem competir e estamos jogando competências decisivas. Então, esse ritmo competitivo de partidas, isso você pode ganhar nos treinos, mas não há nada melhor do que jogar, competir, para chegar à melhor versão. Necessitávamos que Mati entrasse, com 2 a 0, porque ele ataca mais do que Otávio, e a gente necessitava que Alan Franco defendesse contra os dois volantes do Flamengo, Gérson e Araújo”.

Pergunta: esse time pode ter alguma mexida nesse time para o segundo jogo? E qual recado você deixaria para a torcida?

Gabriel Milito: “Para o segundo jogo da final, teremos tempo para pensar, analisar e decidir. Sobre um recado para a torcida do Galo, e que eles sigam nos apoiando, como fizeram até agora. O apoio deles é fundamental para essa final. E tenham certeza que nós vamos dar o melhor de cada um para tentar ganhar. Não sabemos se vamos ganhar, mas a nossa equipe vai entregar ao máximo dentro das nossas possibilidades. Tomara que alcancemos (o título). Se não alcancemos, estaremos todos com a consciência tranquila de que fizemos tudo que poderíamos fazer”.

Pergunta: próximo desafio do Atlético é no Brasileiro. No meio da reta final de partidas decisivas, como você tem interpretado os jogos do Brasileiro?

Gabriel Milito: “O torneio do Brasileirão estamos convivendo com muitos altos e baixos, resultados bons e ruins. É algo que não gostamos. Mas, é muito difícil jogar com a frequência de jogos que estamos fazendo e sempre com os mesmos jogadores. Necessitamos do grupo, de usar mais jogadores, caso contrário, não seria possível chegar nas finais. Agora temos o jogo contra o Atlético Goianiense, vamos preparar bem a equipe para esse jogo, tentar ganhar. E, depois, vamos entrar com muita atenção para essa partida de volta da final”.

*com informações do site oficial do ATLÉTICO

04 de novembro de 2024
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