A maior goleada da história de Atlético e Cruzeiro pertence ao Galo. Lá se vão quase 94 anos, quando no dia 27 de novembro de 1927, no estádio do América-MG, o Alvinegro aplicou o maior massacre já existente no clássico entre os rivais de Belo Horizonte. Com gols de Getúlio, Mário de Castro (2), Said (3) e Jairo (3), o placar terminou em 9 a 2 para o time mais tradicional do estado: o Clube Atlético Mineiro.

Em 2017, o site Globo Esporte, através do jornalista Guilherme Frossard, trouxe detalhes espetaculares sobre a goleada atleticana e vamos reproduzi-la nesta matéria pois vale muito a pena.

A repercussão

Domingo a bola rolou, os gols saíram aos montes, os amantes de futebol em Belo Horizonte compareceram ao campo do América-MG (e não ao campo do Palestra, como diziam as publicações anteriores à partida). Tudo transcorreu na mais perfeita ordem, e a vida seguiu. Segunda-feira, naquela época, não era dia de circulação de jornal. Os periódicos com os informes do clássico foram parar nas mãos dos leitores apenas na terça. O GloboEsporte.com encontrou e separou três publicações do dia 29 de novembro de 1927 para exemplificar a repercussão da goleada.

Começando pelo “Minas Geraes”

a publicação foi extensa. Duas colunas praticamente inteiras em letras miúdas contavam os detalhes da partida. O título, curiosamente, não destacou a goleada, e sim o bicampeonato alvinegro: “O Athletico Mineiro levanta, pela segunda vez, o campeonato da cidade”. Abaixo alguns trechos da publicação do “Minas Geraes”.

“O nosso mundo desportivo teve, anteontem, uma de suas melhores tardes, com o ‘match’ entre o Club Athletico Mineiro e a S. S. Palestra Italia, para a disputa da semi-final do campeonato da cidade. Jogo de grande responsabilidade para ambos os contendores, o encontro de domingo foi, como se esperava, muito renhido, apresentando lances de grande emoção. As archibancadas e logares adjacentes do ‘stadium’ do America F. C., onde se verificou a lueta, achavam-se repletos de ‘torcedoras’, salientando-se o elemento feminino, cuja ‘torcida’, commandada pelas senhoritas Nenem Alluoto e Horizontina Federiel, respectivamente, rainha e grã-duqueza dos sports de Bello Horizonte, foi das mais calorosas e enthusiasticas. Pela segunda vez, coube ao Club Athletico Mineiro, com o resultado da movimentada pugna de domingo, o titulo de campeão de Bello Horizonte”

Pedaço do jornal "Minas Geraes" - reportagem pós-jogo — Foto: Reprodução/Minas Geraes

A partir daí o jornal começa a descrever o jogo com uma espécie de “lance a lance”, na ordem cronológica dos fatos. Por fim, conclui: “Com mais alguns ataques do Athletico, termina o jogo, às 16h50, com o seguinte resultado: Athletico (9), Palestra (2)”.

O “Correio Mineiro”

O mesmo que fez reportagens nos quatro dias que antecederam o jogo – publicou uma matéria completa detalhando a conquista do título pelo Atlético. Começou com uma descrição geral do ambiente e do confronto de domingo.

“Em disputa do campeonato da cidade, encontraram-se, domingo, as aguerridas esquadras dos clubes Athletico e Palestra. Tratando-se do penultimo jogo do campeonato do corrente anno, de que era um dos concorrentes o ponteiro da tabella (Atlético-MG), a atenção geral foi despertada para o encontro que se dizia sensacional. E o campo do America, local do embate, apanhou colossal assistencia (torcida), que applaudiu, com delirante enthusiasmo, os jogadores das suas côres predilectas. As gentis e graciosas torcedoras não faltaram à disputa do importante prelio, comparecendo em grande numero ao campo, dando a este animação extraordinaria e agradavel aspecto. A torcida masculina, como sempre, esteve firme no campo do alvi-verde, torcendo pelo clube de sua predilecção. E, não obstante os boatos que correram pela cidade, não se registrou nenhum ‘sururu’ (briga)” – introduziu o “Correio Mineiro”.

Depois disso, o jornal faz uma breve menção ao jogo preliminar, dos times reservas, e emenda com as escalações dos times principais e do árbitro, o Sr. José Avelino. Na sequência, o “Correio Mineiro” faz como o “Minas Geraes” e publica uma espécie de “lance a lance” do jogo, que termina desta forma: “E sem mais nada digno de interesse, o juiz apitou, dando por fim o jogo, às 16h50, com o seguinte resultado: Athletico (9), Palestra (2)”.

O “Correio Mineiro” dá sequência à completa cobertura com uma avaliação positiva do árbitro: “O Sr. José Avelino apitou bem a partida, demonstrando, às vezes, desconhecer as novas regras de futeból. De vez em quando, batia, a qualquer pretexto, a bola no centro do campo. Manda a justiça, porém, dizer que o Sr. José Avelino foi um juiz energico e, sobretudo, honesto”.

Na sequência há uma avaliação sobre os dois times, com destaques individuais de cada lado, seguida de um texto sobre a comemoração do Atlético-MG e de sua torcida.

Pedaço do jornal "Correio Mineiro" - reportagem pós-jogo — Foto: Reprodução/Correio Mineiro

“Terminando o jogo, a torcida do Athletico, entregou-se às mais expansivas manifestações (…) pela victoria do seu clube. Foram erguidos vivas ao Athletico, ao Dr. Leandro de Moura Costa, presidente do clube vencedor, e ao Correio Mineiro. Às 19 horas, no restaurante Guarany, foi offerecido um jantar aos vencedores do jogo de domingo, tomando parte no ágape aos 22 jogadores triumphadores, e Dr. Moura Costa, e varios athleticanos veteranos. O jantar decorreu em um ambiente de cordialidade, sendo trocados varios brindes” – concluiu a matéria extensa do “Correio Mineiro” sobre o campeão mineiro de 1927.

Extensa matéria do “Diário da Manhã”

Também publicada no dia 29, terça-feira. O periódico usou o seguinte título: “O Athletico, ante-hontem, obteve linda e facil victoria sobre o Palestra”. O subtítulo: “Depois de haverem resistido no primeiro tempo, os palestrinos deixaram-se abater fragarosamente”.

“Seria injusto da nossa parte, se não realçassemos a linda victoria do Athletico Mineiro, obtida domingo ultimo, sobre a valorosa esquadra do Palestra Italia. Com a nossa independencia do costume e reconhecida imparcialidade, não podemos deixar de fazer elogiosas referencias à magnifica actuação dos vencedores de ante-hontem, que, souberam durante toda a pugna, se empregar com tenacidade bastante, fazendo-se merecedores da victoria alcançada. (…) A tarde sportiva de ante-hontem, no campo do America, não foi má. Lá estiveram as torcidas dos dois clubs que se encontraram, não faltando o enthusiasmo que sempre provocam as grandes pelejas de football” – disse a publicação do “Diário da Manhã”.

Pedaço do jornal "Diário da Manhã" - reportagem pós-jogo — Foto: Reprodução/Diário da Manhã

Antes de entrar no “lance a lance”, comum nos três jornais que reportaram a partida na terça-feira seguinte, o “Diário da Manhã” fez um resumo das razões que levaram o Atlético-MG à vitória com larga folga.

“Mais solido e articulado, não foi dificil ao Athletico abater o Palestra Italia, cujo team, além de aparecer integrado com dois elementos secundarios (reservas), desorientou-se por completo, empregando um jogo violento e prejudicial, que lhe valeu a derrota. O team preto e branco deve especialmente a victoria, à magnifica atuação de sua linha atacante, devendo-se accrescentar que tambem alguns jogadores do Palestra collaboraram nesse triumpho, pois tiveram uma marcação defeituosa e auxiliaram mal o ataque, à excepção do centro médio Osti, que, pelo menos, nesse particular, portou-se com alguma habilidade” – resume o “Diário da Manhã”.

O TRIO MALDITO E MÁRIO DE CASTRO

Dos nove gols marcados pelo Atlético no clássico do dia 27 de novembro de 1927, oito foram de autoria de um dos integrantes do “Trio Maldito”. Eram os três atacantes do Galo: por Said, Jairo e Mário de Castro, todos já falecidos. O último a partir para o “andar de cima” foi Mário de Castro, em 30 de abril de 1998, aos 92 anos.

"Trio maldito" : Jairo, Said e Mário de Castro marcaram oito dos nove gols no jogo — Foto: Reprodução/Site do Atlético-MG

09 de abril de 2021
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